terça-feira, 8 de julho de 2008

A mais carioca das Ruas

Com apenas uma semana no ar, nosso Blog já ganhou o primeiro presente. Um presente de Luiz Antonio Simas, o famoso Simão.

Simas é um apaixonado pelo Rio, boêmio, sambista, suburbano,daqueles que só vai à Zona Sul em último caso, e também professor de História, aliás um excelente professor. Não é difícil esbarrar com um de seus alunos por aí. O último que esbarrei foi na própria "Desvio do Mar" nesse último sábado: " Porra o Simas foi sem dúvida o melhor professor que já tive (...)", dizia um ex-aluno empolgado ao vê-lo cantar " Os cinco Bailes da história do Rio ", lendário samba enredo do Império Serrano de autoria de Ivone Lara e Silas de Oliveira.

A pedido do Blog, o nosso querido Simão fez um texto sobre a Rua do nosso coração. Aí vai:

A mais carioca das ruas (Luiz Antonio Simas)

" Não há na cidade do Rio de Janeiro lugar que tenha mais histórias que a tradicionalíssima Rua do Ouvidor. No início dos tempos coloniais, a Ouvidor era conhecida como o Desvio do mar. Ao longo de sua história, recebeu várias denominações. Foi, por exemplo, Rua do Alex Manuel, do Manuel Costa, do Gadelha, do Barbalho, Salvador Correa, da Santa Cruz e Rua do Padre Homem da Costa.
Em meados do século XVIII, mais precisamente em 1745, a Fazenda Real comprou algumas casas na rua para que fossem residências dos Ouvidores. O primeiro Ouvidor foi Manuel Pena de Mesquita. O segundo Ouvidor, Francisco Berquó da Silva Pereira, tornou-se popularíssimo na região. Parece, inclusive, que era chegado numa cana forte. Bebia muito, o nosso funcionário real. Por causa dele a rua passou a ter a denominação que preserva até hoje.
Quando a corte portuguesa chegou ao Brasil e os portos foram abertos, em 1808, a velha rua adquiriu um novo status. Passou a ser, ao longo das décadas, a sede de confeitarias, cafés, redações de jornais, livrarias, casas de modas e casas de música. Era, enfim, a rua mais importante da cidade.
Em 1897 o governo tentou mudar o nome da rua para Coronel Moreira César, em homenagem ao militar falecido na guerra de Canudos. A população da cidade ignorou solenemente a mudança, continuou chamando a rua pelo nome tradicional e fez a prefeitura desistir da homenagem. Não combinava mesmo chamar a Ouvidor, reduto da fina flor da boemia carioca no século XIX, pelo nome do coronel – um sujeito violento pacas, diga-se de passagem, e nem um pouco chegado num furdunço.
Para quem gosta de música, é importante lembrar que na Rua do Ouvidor n. 107 funcionou a pioneira Casa Edson, especializada na venda de equipamentos de som e eletrodomésticos. Em um anexo da loja, no n. 105, Fred Figner fundou a primeira gravadora do Brasil, responsável por dar ao país no início do século XX o terceiro lugar no ranking mundial de fonogramas gravados. A nata da música brasileira de então – chorões, violonistas, cantores de modinhas, maxixes e polcas – vivia circulando pelos arredores da Casa Edson. Era na Ouvidor também que desfilavam as Grandes Sociedades Carnavalescas durante o tríduo de Momo.
A Ouvidor, enfim, concentrava boa parte das atividades culturais da cidade de São Sebastião. Foi assim até a abertura da Avenida Central – atual Rio Branco – quando vários estabelecimentos mudaram-se para a moderna avenida. A velha rua, entretanto, mesmo perdendo parte da importância que tinha, nunca perdeu o charme que a tornou lendária.
Hoje, cada vez mais revigorada e, felizmente, popular, a Ouvidor volta a ocupar um espaço primordial na vida cultural da cidade. Não bastasse sediar a Folha Seca - a mais carioca das livrarias - bares e botequins de responsa, a velha rua é o cenário do evento que, a meu ver, é o mais significativo da música brasileira hoje – a roda de samba quinzenal que vem mostrando a quem quer ouvir que o samba é a mais revolucionária e atual forma de expressão da nossa cultura.
Sem o apelo fácil, sem ceder aos moderninhos que acham bonito gostar de samba, mas não entendem patavina do riscado, a rapaziada do Samba da Ouvidor honra a história e a memória do velho Desvio do Mar. A mais tradicional das ruas cariocas é hoje – exatamente pelo respeito e reverência aos bambas da tradição – o espaço mais interessante e renovado da cidade mulher. (E toca o samba do Paulo aí, rapaziada!).
Axé."

Obrigado professor, esperamos sempre poder contar com seu conhecimento para o crescimento do Blog.

Aliás, quem quiser visitar o Blog do Simas é só clicar Aqui ou então ir na lista de links e clicar no blog Histórias do Brasil.

Até sábado dia 19 às 14 horas.

Abraço a todos!

61 comentários:

Ricardo disse...

Sensacional Simas, sensacional!

Anônimo disse...

Só tenho uma coisa a dizer:

Do caralho!!!

Obs: O Simas também foi meu professor, no ano de 1999, no PH da Professor Gabizo.

Anônimo disse...

Quando eu crescer, quero escrever igual ao Simas.

Unknown disse...

Excelente texto!

Meus parabéns...

Anônimo disse...

Gabrielzinho e Ricardo,

Queridos amigos, não há como agradecer um presente como o blog de vocês, que honra, em todas as suas cores e formas, a melhor tradição carioca - nos brindar com um texto do maiúsculo Simas, logo na largada, já antecipa o muito de bom que estar por vir.

Vida longa ao Samba da Ouvidor.

Saravá!

Rafael disse...

Coisa fina hein ...

abraços!

Anônimo disse...

Falou quem disse! Salve Simas!!! Obrigado pela aula...

Anônimo disse...

Sobre o comentário elitista do último parágrafo, tenho algumas perguntas a fazer, que são as seguintes: pra gostar de samba, tem que entender? E se não entender, não pode ir lá à roda? Não pode passar a gostar? Não pode passar a entender, pra gostar ou não? Se entende, necessariamente passa-se a gostar? O elitismo do comentário é exagerado e inconsciente, pois parte de uma pessoa supostamente esclarecida. Mas trata-se apenas de um erudito; um colecionador de pequenas histórias. Mas que não consegue tirar lições da História e da vida e que, infelizmente, reproduz esse elitismo subliminar aos seus alunos. É preferível o careta verdadeiro, que fala mal. Pelo menos estimula a verificação. Pois falsa posição, consciente ou não, é que é um veneno. Abram os olhos, meus jovens autores e leitores deste querido blog. Não se deixem levar por miragem e camaradagem. Um abraço pro Gabriel e pro Ricardo. Até a próxima.

Tereza disse...

Difícil é aturar a voz de taquara rachada desse sujeito.

Anônimo disse...

Anônimo,

Creio que você interpretou o assunto equivocadamente, pois não consegui ver nenhum elitismo no texto do Simas. Somente uma pessoa que faz QUESTÃO de achar elitismo e segregação em qualquer assunto sobre samba, pode encontrar maldade neste texto.
Quando ele afirma que o Samba da Ouvidor não está cedendo à "modinha de samba", quer expor o que cada vez mais acontece na sociedade atual, onde todos têm que gostar e desgostar das mesmas coisas impostas pela mídia!
Você fez uma porção de perguntas que todos nós sabemos as respostas, inclusive você...
No parágrafo citado ele escreve:
"Sem o apelo fácil, sem ceder aos moderninhos que acham bonito gostar de samba, mas não entendem patavina do riscado..."
Nesse ponto, ele escreve justamente sobre os "caretas verdadeiros, que falam mal", que você diz preferir!
Quem tem falsa posição é quem fala mal ou bem de algo sem conhecer ou PROCURAR conhecer, coisa muito comum no meio artístico e no samba, principalmente! O resto é pura opinião pessoal, e cada um tem a sua, sendo elitismo, populismo ou falso moralismo...

Abraço!

Luiz Antonio Simas disse...

Hehehehe...gostei desse "apenas um erudito". Pelo menos isso. Valeu anônimo, que bom que você alertou para o perigo que eu represento. Quanto ao elitismo, é consciente. Gostar de samba é mesmo fazer parte de uma elite, que não é econômica. Um abraço e obrigado pela atenção dispensada ao meu texto despretencioso.

Unknown disse...

Acho que o anônimo devia ter o caráter de assinar o nome. O comentário não é apenas ridículo. Carece de coesão lógica. Se o Simas é elite, eu sou a Glorinha Kalil.
abração
mussa

Anônimo disse...

Aí anônimo.

Tu deve ser daquela rapaziada que chega lá na roda, após uma praiana e um baseado de manhã e fica ali perdido.Com aquelas roupas ridículas e aqueles cabelos despenteados...


Um conselho:

"Vai de roupa velha e tutu seu trouxa"

Anônimo disse...

Ou, como pensavam alguns quando o samba foi gravado, e não conseguiam identificar o verso:

"Vai de roupa velha no cu, seu trouxa"

Anônimo disse...

Não falo de elite econômica, claro. Mas de um elitismo que se pretende conferir a quem aprecia isso ou aquilo, o que é uma bobagem sem igual. Ainda mais em relação a samba, que é de todos e de quem mais chegar. Então, quem não gosta de samba não faz parte de que elite? A que elite se crê pertencer? Qual o caráter desta elite? Que elite se conforma em torno de um tema tão acolhedor quanto o samba? Que é de todos e de um mundo sem elites. O texto foi despretensioso, mas sutilmente conservador. A pretensão por vezes mascara o inconsciente.

Felipe Quintans disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Felipe Quintans disse...

Anônimo, não tem sentido ficarmos batendo em cachorro morto sem ao menos saber o nome do bicho. Ou deixa de ser FROUXO ou pega tua coca zero e tuas jujubas e cai fora do balcão.

Elitista? O Simas? Só pode ser pilhéria da sua parte.

Assinado: Felipinho.

Anônimo disse...

O samba da Ouvidor é mesmo sutilmente elitista como o texto do simas, que pessoalmente eu não conheço. Só digo uma coisa: Porque então não cantam sambas que já são clássicos e todos conhecem e ficam cantando de propósito sambas obscuros que não empolgam as pessoas, para afastar as pessoas da roda? Onde estão Paulinho da Viola, Jorge Aragão, Zeca Pagodinho, Martinho da Vila, Martinália, Fundo de Quintal e outros grandes nomes do samba? Não ouvi nenhum deles quando fui a roda de vocês. Lamentável esse preconceito.O samba é agregador, mas esse repertório dos garotos da Ouvidor visa fazer uma panelinha que não concordo. É isso.

Felipe Quintans disse...

Sambas obscuros? Que não empolgam as pessoas?

Tu só pode estar de sacanagem!

Anônimo disse...

Nota: o Anônimo de 10 de Julho de 2008 13:43 e 11 de Julho de 2008 07:47, o que agora escreve, não é o mesmo de 11 de Julho de 2008 09:43. Nada tenho a ver com esse texto. Adoro os sambas que rolam por aqui (lá). Minha diferença não é com estilo, mas com a bobagem de "elite". Que, pra mim, fica bem em nome de gafieira.

Anônimo disse...

Uma coisa pelo menos sabemos. Os dois anônimos tem algo em comum, além do anonimato: não sabem escrever em português. Que textos horrorosos.
Abraços e parabéns pelo blog e pela publicação do ótimo texto do professor sobre a Rua do Ouvidor.

Luiz Antonio Simas disse...

Hehehe. Tá ótimo isso aqui.
A Tereza, lá em cima, fala que o pior é aturar "a voz de Taquara rachada desse sujeito". Suponho, evidentemente, que o sujeito seja eu. Quero declarar publicamente que, em meio a elogios e críticas ao meu texto (e texto serve pra isso mesmo, uns gostam, outros enfiam o cacete), o comentário mais interessante e correto de todos os feitos até agora é o da Tereza. Perfeita a colocação dela.
É que quando eu canto, meu modelo de inspiração é o do grande músico e cantor Tiago Prata, o meu compadre Pratinha.
Abraços do supostamente esclarecido, erudito e colecionador de pequenas histórias.
PS: Adorei a definição, anônimo. Vou adotá-la e já instruí amigos e mulher para colocar isso na minha sepultura quando eu for pra cidade do pé junto. Vai ficar sensacional : "Aqui jaz L.A.Simas - foi em vida supostamente esclarecido, erudito e colecionador de pequenas histórias").
Valeu, rapaziada.

Unknown disse...

Não sabemos quem são os anônimos, mas dá pra saber o que eles pensam: consideram erudição uma coisa ruim; acham que cultura é elitismo; consideram obscuro o trabalho de resgate e preservação da memória artística brasileira (e carioca), realizada , na opinião da maioria que freqüenta aqui, pela esplêndida rapaziada do samba da Ouvidor.
Como diriam os velhos do Estácio, "deixa falar!"
abraço
mussa

Anônimo disse...

Caro anônimo

Eles cantam sambas clássicos e também desconhecidos. Um dos objetivos do samba, acredito, é esse resgate de sambas desconhecidos. Valendo lembrar que nem tudo que é desconhecido e/ou antigo é bom!
Não creio que os meninos queiram afastar as pessoas da roda. Eu mesmo, no início, conhecia pouquíssimas músicas. Agora já conheço bem mais, até porque procuro correr atrás daquelas músicas que desconheço, para participar cada vez mais efetivamente do samba. Sei que é chato chegar lá e não conhecer nada do que é tocado. Mas a partir daí, a pessoa pode tomar duas posturas distintas: 1)Procurar saber do que se trata. 2)Ignorar e querer escutar as músicas que sabe e escuta sempre por aí...
Com relação a esses compositores que você citou, o Paulinho da Viola é cantado lá sim. Os outros compositores, tu pode escutá-los em qualquer roda de samba por aí no RJ, te garanto que vão tocar eles exaustivamente. Mas, ao meu ver, não é uma OBRIGATORIEDADE cantar esse ou aquele compositor. Para mim, não colocaria isso como um preconceito, e sim, como uma preferência. Garanto que essa molecada respeita todos estes que você citou!

Tchau!

Anônimo disse...

O primeiro anônimo tá putinho porque vai lá e não sabe cantar uma sequer, prefere sempre ficar ouvindo as mesmas coisas, aquelas que ninguém aguenta mais. Ele não percebe que o que os garotos estão fazendo, de cantar músicas mais desconhecidas, é muito mais importante para o samba do que ficar cantando coisas batidas de Fundo de Quintal, Zeca, Martinho...

É muito mais importante para a cultura que se seja mostrado um samba escondido do Nelson Cavaquinho do que se cante pela milésima vez o maravilhoso clássico Folhas Secas.

Mas é ddifícil para as pessoas entenderem isso, logo no momento em que se está contruindo algo de extrema relevância para a cidade, para o samba e para a cultura, vem um anônimo que provavelmente não sabe nem que dia foi ontem criticar. Acho muita ignorância um cara que critica o elitismo criticar a roa da Ouvidor. Se eles fosse elitistas, não compartilhariam do conhecimento que têm. Se fosse elitistas talvez eu morreria sem saber que o Cartola tem uma música chamada Tristeza. Se fossem elitistas, talvez eu nunca saberia que o Walter Rosa teria feito três Confraternizações, uma vez que a única gravação que conheço é a do Terreiro Grande, da Confraternização 1. A 2 e a 3 me foram apresentadas lá.

Se eles fossem elitistas, nção estariam tocando numa Rua, sem cobrança de couvert, estariam fazendo igual a esses grupinhos que hoje estão por aí, cobrando ingressos caros, fora do alcance econômico do povo.

Deixa de ser burro " anônimo ", critique, mas com inteligência, com sabedoria. Sugiro a rapazeada do blog que não aceite mais esses tipos de comentários sujos e hipócritas.

Parabéns pelo belo texto, Simas!

Anônimo disse...

Belo texto Simas!!
Se o que a gente faz quinzenalmente na rua do ouvidor é elitismo como se denomina o que é feito em casas de samba pelo brasil em que são cobrados preços exorbitantes só para adentrar no recinto?? Acho que é populismo né??
rs

Anônimo disse...

Esse Anônimo está me tirando do sério...Cuidado em rapaz...

Anônimo disse...

Muita vela para nenhum, rigorosamente nenhum defunto.

Mas, cá entre nós, o travestido cidadão reclamar que não toca Mart'nália e Fundo de Quintal (cáspite!) é de "fudeire" (uma lusa homenagem a dois gigantes da Ouvidor, Santinhos e Carlinhos Old Times).

Saravá

Ricardo disse...

Prezado anônimo, escreveste que:

" ficam cantando de propósito sambas obscuros que não empolgam as pessoas, para afastar as pessoas da roda?"

Meu caro, se os sambas de Manacéa, Caninha, Silas de Oliveira, Walter Rosa, Noel Rosa, Alvaiade e tantos outros mais, não te despertam absolutamente nada, mesmo que você não os conheça, seu lugar não é no samba. Muito menos no Samba da Ouvidor. E outra coisa, a intenção é essa mesmo. Trazer de volta os sambas e compositores que estão perdidos no tempo. Tanto que agora criamos o blog para disponibilizar os sambas.

Também perguntaste:

"Onde estão Paulinho da Viola, Jorge Aragão, Zeca Pagodinho, Martinho da Vila, Martinália, Fundo de Quintal e outros grandes nomes do samba?"

Excluindo P. da Viola desse bolo, você não acha que esses artistas já não têm espaço suficiente? Estão no repertório de praticamente 99% das rodas de samba do Brasil, estão nas rádios, na Televisão, nos jornais, nos Prêmios Multishow da vida, ou seja, em todos os lugares. Se eu colocar uma foto do Caninha ou do Walter Rosa aqui, você o reconheceria? E do Zeca Pagodinho e do Arlindo Cruz? Pois é né? Pense nisso.

Anônimo disse...

Chega pessoal, chega!

Já humilharam ele o suficiente...

Nelson Borges disse...

Não pretendo acender mais velas para defunto nenhum como disse muito bem o Fraga anteriormente, apenas gostaria de deixar uma opinião sobre a minha atual roda de samba preferida.

Não vou sempre lá pois trabalho embarcado e muitas vezes a roda não coincide com a minha folga, mas quando vou levo meu pequeno sambista de um ano e dez meses que fica vidrado na roda com o seu pandeirinho na mão desde o momento da passagem de som.

O que mais gosto na roda é o fato dela tocar sambas desconhecidos para a grande maioria, adoro ouvir uma nova melodia e uma nova letra, vou lá justamente a procura disso.

Arlindo Cruz e Zeca Pagodinho são maravilhosos, mas tem local e ambiente para tudo.

A primeira vez que eu estive lá foi simplesmente apaixonante e arrasadora, ouvi mais de uma hora seguida de Bide e Marçal e bebi meu chope ao lado de um grande ídolo, Elton Medeiros.

Neste último sábado conheci e me apresentei ao Simas, estava com o meu filhão no colo que observava tudo. Ele foi super simpático e não se mostrou em nada com as definições aqui disparadas.

Gabriel, meu amigo, adorei a idéia do Blog, e Simas, o texto está sensacional, vou encaminhá-lo para diversos amigos.

Abraços e até a próxima.

Nelosn Borges

Anônimo disse...

Quem se definiu foi o próprio ao afirmar que "Quanto ao elitismo, é consciente. Gostar de samba é mesmo fazer parte de uma elite, ...". Este é o xis da questão. O pressuposto em que se baseia o trecho do artigo ("...sem ceder aos moderninhos que acham bonito gostar de samba, mas não entendem patavina do riscado, ...")é conservador, elitista, estimulador de guetos artísticos. Mas o samba é, de fato, popular, para todos: os que gostam e os que dele venham a gostar, entendam "do riscado" ou não. Espero que mais e mais moderninhos passem a gostar de rodas de samba e a freqüentá-las. E todos verão, "entendidos do riscado" ou não, que esse argumento de pertencer a uma elite pelo simples fato de apreciar algo é um total equívoco. Que se faz ainda maior quando parte de um professor de história. É coisa de quem leu e não entendeu. Não caiam nesse ardil, meus queridos músicos.

Anônimo disse...

Essa discussão sobre o que é ou não elitista já está um pouco demais. Não seria melhor dar uma olhada no dicionário prá ver o que é elitismo?
Não sei como pode um sambista ou admirador de samba ser elitista. Coisa esquisita.
Fora isso, não cantar a mesmice de todas as rodas é uma grande contribuição ao samba. É uma aula.
Prabéns à rapaziada do samba da aouvidor!

Anônimo disse...

Por acaso na foto 14 dos slides seria o Júnior acompanhado do seu avô Silas de Oliveira??
rs

Anônimo disse...

Fabio,

A foto foi tirada no Capela...

Hehehe...

Anônimo disse...

A mim também parece estranho um "sambista ou admirador de samba ser elitista". Mas foi o que escreveu um alguns comentários acima. Declarou-se membro de uma elite. E, além de admirador do samba, o autor do artigo que motivou a polêmica e ratificou sua posição é um professor de história. O que torna sua posição ainda mais estranha. Fico a pensar o que nossa Academia anda produzindo.

Anônimo disse...

Ô anônimo.
Fingir de burro é fácil.
Difícil é ser inteligente.

Anônimo disse...

Ae anônimo, por que você não se identifica?

Tu és tão elitista que não quer compartilhar nem o teu nome com a rapazeada.

Aliás, depois da vergonha que você passou... Nem eu colocaria meu nome aí.

Anônimo disse...

Sempre essas malas - parte 2.

O outro anônimo vem me falar que lá não toca Arlindo, Jorge Aragão, Fundo de Quintal. Deixa eu ver se entendi. Você diz que o samba da ouvidor é elitista e preconceituoso pq não toca musicas dessas pessoas. Sendo assim, me esclareça algo. O que dizer das outras rodas de pagode, espalhadas pelo rio, que só tocam musicas batidas e não tocam Manacea, Carlos Cachaça, Mijinha, Chico Santana, Walter Rosa, Bide, Marçal, etc. Essas rodas são o que?

obs: Se a roda do Ouvidor é tudo isso que vc falou, pq raios o sr. esta nesse blog?

Querido sem nome 2:
PROCURE REVER A HISTÓRIA!

Anônimo disse...

Esqueci de postar a primeira parte. Segue agora:

Sempre essas malas - parte 1.

Um fala que o só toca samba desconhecido, o outro fala que texto do Simas, excelente por sinal, é elitista e não para de repetir seus argumentos, como se fosse um mantra.
E o pior, fala, critica e não se identifica. Atitude clássica de pessoas covardes. A internet é o lar dos covardes, pois qualquer um pode escrever um monte de besteiras e se esconder atrás de um fake, de um "anônimo". Meu caro amigo sem nome, te digo só uma coisa:
"ELITISTA É O CACETE!"

Aos amigos peço desculpas pelo meu palavreado, mas esses covardes me tiram do sério.

Anônimo disse...

Ary da Antiga,
já que vossa senhoria usou a segunda pessoa do singular ao se referir ao Anônimo, o verbo querer está incorreto.Deveria ser "queres"...
grande abraço!
ps:Um pouquinho de estudo da gramática não faz mal a ninguém...

Anônimo disse...

Vamos ao Aurélio...

Elite.[Do fr. élite.] S.f. 1. O que há de melhor em uma sociedade ou um grupo; nata; flor; fina flor.


O samba da Ouvidor contém realmente o que há de melhor em uma sociedade( em termos de samba)e representa a nata, a fina flor...sábio aurélio. Sabendo agora da definição correta, posso afirmar que ali se encontra a elite. Elite esta que o Simas bem falou, não é econômina. Mas que é um ELITE, isto é.


Alguém aí já ouviu falar em lp chamado "A fina flor do partido alto"?????

Então, esse Lp tem Padeirinho, Paulo Brazão, Aniceto entre outros e reunia o que havia de melhor no partido alto. Era sim uma elite, onde contava com os melhores naquilo que se propunham a fazer.

Dessa forma anônimo, podemos concluir que o samba da Ouvidor é sim uma elite, não na conotação pejorativa, excludente, separatista que lhe está sendo atribuída, mas sim, no que diz respeito a qualidade dos sambas que lá são apresentados.

Entendeu Filhão?

Um abraço amigo do JAIRO ARISTIDES

Anônimo disse...

Valeu proff, mas eu sou vagabundo da antiga, moorô? Num me ligo muito nesses lances de gramática, tá ligado? Mas mermo assim valeu pelo toque de vossa senhoria.

Nelson Borges disse...

Só para ilustrar o que a rapaziada anda fazendo.

O LAMENTO DO SAMBA

Eu tenho saudade
Dos sambas de antigamente
Quando o samba deixava
Uma vaga tristeza
No peito da gente
Não era amargura
E nem desventura
E nem sofrimento
Era uma nostalgia
Era melancolia
Era um bom sentimento.

Nos dias de hoje
O samba ficou diferente
Não tem mais dolência
Mudou a cadência
E o povo nem sente
Sua melodia
É uma falsa alegria
Que passa com o vento
Ninguém percebeu
Mas o samba perdeu
Sua voz de lamento.

Quando eu canto na roda de samba
Um samba que é mais antigo
A moçada se cala, escuta, aprende,
E ainda canta comigo
O que falta pra quem faz um samba
É a tristeza que vem de outro tempo.
Quem não sabe a ciência do samba
Vai fazer o que pede o momento.
O segredo da força do samba
É a vivência do seu fundamento.
O que faz ser eterno um bom samba
É a beleza que tem seu lamento.

Paulo Cesar Pinheiro

Até

Anônimo disse...

A conversa já está desvirtuada, mas vamos lá. Meu argumento não se baseia no que se toca por lá, que é sem dúvida excelente, mas no seguinte comentário, que considero elitista: "aos moderninhos que acham bonito gostar de samba, mas não entendem patavina do riscado". É apenas ao comentário que me refiro. Em nenhum momento fiz referência ao que se toca, quem toca ou como se toca. Do que gosto muito. Mas o texto é, no mínimo, inadequado, por ser elitista, excludente, desagregador, quando deveria ser pedagógico, receptivo e atraente. E pretensioso. Do que tanto o autor entende a ponto de torná-lo um admirador especial? E por que alguns não têm o direito de gostar pelo fato de não entenderem? Esta é que é a derrapada elitista que acho lamentável. Não foi criticada, muito pelo contrário, e eu me dou o direito de fazê-lo, civilizadamente, como espero que transcorra esta qualquer outra argumentação. Pode parecer um truísmo, mas não sou obrigado a concordar com o que acho equivocado. O que falta a alguns é o hábito da divergência, da discussão, o que é compreensível numa sociedade como a nossa. Cultua-se, por aqui, a camaradagem acima de tudo e relega-se a crítica a um segundo plano. Divergi em relação ao que foi escrito e ponto final.

Luiz Antonio Simas disse...

Para encerrar essa discussão sem sentido. Anônimo, você não fez nenhuma crítica civilizada, nem exerceu o hábito da divergência e da discussão saudáveis. Não há debate saudável, nem críticas civilizadas feitas sob o manto absolutamente covarde do anonimato. O simples fato do senhor - ou senhora, sabe lá - utilizar-de do infame recurso do anonimato não lhe credencia para falar nada comigo, discutir nada comigo ou argumentar o que quer que seja. Se a sua crítica fosse feita de forma decente, assinada, revelada - e por que não pessoalmente, já que ambos frequentamos o samba da Ouvidor - eu perderia meu tempo para lhe explicar que seu argumento sobre um suposto elitismo do texto é pífio. Mas você não se comportou como um debatedor de idéias. Comportou-se apenas como um covarde que, desde já, concordando ou discordando de mim, é indigno de sentar numa mesa de bar e compartilhar uma cerveja e uma conversa fraterna com quem quer que seja, pois utiliza-se do esconderijo do anonimato para destilar argumentos pobres. Não argumentarei mais nada em relação a essa questão. Não há nada civilizado em utilizar-de do recurso de se esconder para falar de outras pessoas. Você foi covarde. Crítica, quando é anônima, deixa de ser crítica e vira apenas fofoca. Você fez fofoca. Só isso.

Eugenia disse...

q texto maravilhoso!
graaande professor!
e... meninos... não mudem nadica de nada!
o barato do Rio é q tem samba de todo o jeito...
anônimo, as rodas ñ precisam ser todas iguais... seria mto chato a gente ir a todas e ouvir sempre o mesmo repertório...

Anônimo disse...

Perdoe-me, caro professor, mas não falei a respeito de ninguém, muito menos a seu respeito. Sequer o conheço e pouca diferença faria se o fizesse. Fiz críticas ao que foi escrito e cuja autoria lhe foi atribuída. Pouco importa, também, quem o tenha feito. Fui nota dissonante no coro de elogios que seu artigo mereceu. E que, de fato, é historicamente ilustrativo e elogioso a respeito desse movimento de resgate de um samba de qualidade. Promover atividades desse tipo, ainda mais em um local público, tem sempre um caráter civilizatório. Por outro lado, lá pelo último parágrafo, lê-se aquele comentário infeliz, inadequado quando proferido por qualquer um, quanto mais a um educador. Mas já que não pretende arrolar argumentos substantivos que se contraponham aos meus aqui neste pequeno espaço, talvez possa fazê-lo em meios com maior destaque e que espero sejam suficientes para justificar o deslize daquele texto. Nunca é tarde.

Anônimo disse...

//O Anônimo do comentário de 14 de Julho de 2008 14:03 e de 10 de Julho de 2008 13:43 não é o de 14 de Julho de 2008 15:16.//

Anônimo disse...

Um parceria entre Ivete e Aragão cairia bem tb...ou uma entre Marquinhos Satã e Daniel...ou quem sabe entre Almir Guineto e Mc Créu?????????

Concordo contigo anônimo!!!!

Tu é o cara!!!

Rafael disse...

"Para mim,uma parceria hoje entre a tradição do Arlindo Cruz e a modernidade do Marcelo D 2 é o que pode fazer o samba sair do gueto e conquistar o público que merece,que aí sim pode querer conhecer velhos mestres.O que hoje achamos de cartola e noel, as gerações futuras acharão de Arlindo e Zeca."

Fala aqui pro tio que isso é brincadeira vai ... voce não pode estar falando sério.

abraços a todos.

Luiz Antonio Simas disse...

Ô rapaziada, eu tiro meu time de campo nessa maluquice de anônimos. Desisto. Abraços e vamos ouvir samba que é o melhor que a gente faz.

Ricardo disse...

E fim de papo...

Gabriel da Muda disse...

Vou responder apenas á critica que foi feita a minha pessoa:

Anônimo; em nossa roda de samba na Rua do Ouvidor, resolvemos desde o princípio seguir uma linha de repertório. Um repertório desconhecido, de músicas da era do Rádio, até mesmo de antes dessa era, a sambas de terreiro das escolas de samba. Cantamos também músicas próprias, o Anderson, por exemplo, sempre manda as suas.

Nosso objetivo é que a roda siga uma linha, entende? Para que não fique uma bagunça.

Ao contrário do que muitos pensam, respeitamos, e muito, tudo que é tipo de música. Se não atendemos aos pedidos, é porque não sabemos ou então por serem pedidos que não se enquadram no repertório que prezamos na roda. Porém, isso não quer dizer que ignoramos o outro lado.

Eu, por exemplo, toco no Samba do Trabalhador há três anos, com um repertório totalmente diferente do que rola nas tardes de sábado e curto demais aquilo, aprendo muito ali e convivo com pessoas super queridas. Quem for lá vai ver que canto coisas totalmente diferentes das que canto quinzenalmente na roda. O Pratinha está sempre por aí, tocando choro, samba... O Anderson idem e todos os outros integrantes também.

Na rua do Ouvidor temos outros objetivos, gostamos de cantar outras coisas, mas isso não quer dizer que negamos algo.

Seja sempre bem vindo por aqui, e também em nossa roda. Mas vê se se identifica. rsrs

Abraço a todos e viva o samba!

Anônimo disse...

Rafael,

O pior de tudo é que o anônimo do comentário de 14 de julho de 2008 de 15:16 acha que está descortinando uma verdade absoluta, tal qual verdadeira pitonisa do samba, como se Arlindo e Zeca engraxassem os sapatos de Cartola e Noel (não citou outros grandes, decerto, por não conhecê-los).

Mais sensacional, entretanto, foi o "modernidade do Marcelo D2", cuja única missão, parece-me, foi destruir o "Samba da Bênção".

Saravá!

Rafael disse...

Fraga,

Pois é .. como eu disse num outro tópico, tem que moderar esses comentários aí mesmo ... se não, dá espaço a toda sorte de imbecis falarem esse monte de merda aí ...

Pente fino neles !

abraços.

Anônimo disse...

Rafael,

É verdade, você tem toda a razão, mas em vista de ser múltipla a dita sorte de imbecis anônimos, creio que deva ser a hora de batizá-los, afastando a distinção feita por um dos próprios: "//O Anônimo do comentário de 14 de Julho de 2008 14:03 e de 10 de Julho de 2008 13:43 não é o de 14 de Julho de 2008 15:16.//".

Sugiro para aquele primeiro, que fala em tom, digamos, professoral, a alcunha de imbecil primal (com todo o evidente múltiplo uso da palavra), que lhe parece?

Saravá!

M. Ulisses Adirt disse...

Eu queria mandar essa mensagem por e-mail, mas não encontrei o e-mail de vocês aqui no blog. Então, resolvi colocar nos comentários deste texto que, creio eu, é o local mais condizente.

Encontrei um trecho de um texto do Machado de Assis em que ele fala da Rua do Ouvidor e achei que vocês poderiam apreciar. O trecho pode ser encontrado na crônica “Tempo de crise”, publicada no Jornal das Famílias, em abril de 1873. Vamos a ele:
“– Não; fiquemos um pouco à porta; quero conhecer esta rua de que tanto se fala.

– Com razão, respondeu o C... Dizem de Shakespeare que, se a humanidade perecesse, ele só poderia recompô-la, pois que não deixou intacta uma fibra sequer do coração humano. Aplico el cuento. A rua do Ouvidor resume o Rio de Janeiro. A certas horas do dia, pode a fúria celeste destruir a.cidade; se conservar a rua do Ouvidor, conserva Noé, a família e o mais. Uma cidade é um corpo de pedra com um rosto. O rosto da cidade fluminense é esta rua, rosto eloqüente que exprime todos os sentimentos e todas as idéias...

– Contínua, meu Virgilio.

– Pois vai ouvindo, meu Dante. Queres ver a elegância fluminense? Aqui acharás a flor da sociedade, - as senhoras que vêm escolher jóias ao Valais ou sedas à Notre Dame, - os rapazes que vêm conversar de teatros, de salões, de modas e de mulheres. Queres saber da política? Aqui saberás das notícias mais frescas, das evoluções próximas, dos acontecimentos prováveis; aqui verás o deputado atual com o deputado que foi, o ministro defunto e às vezes o ministro vivo. Vês aquele sujeito? É um homem de letras. Deste lado, vem um dos primeiros negociantes da praça. Queres saber do estado do câmbio? Vai ali ao Jornal do Comércio, que é o Times de cá. Muita vez encontrarás um cupê à porta de uma loja de modas: é uma Ninon fluminense. Vês um sujeito ao pé dela, dentro da loja, dizendo um galanteio? Pode ser um diplomata. Dirás que eu só menciono a sociedade mais ou menos elegante? Não; o operário pára aqui também para ter o prazer de contemplar durante minutos uma destas vidraças rutilantes de riqueza, – porquanto, meu caro amigo, a riqueza tem isto de bom consigo, – é que a simples vista consola.

Saiu-me o C... tamanho filósofo que me espantou. Ao mesmo tempo agradeci ao céu tão precioso encontro. Para um provinciano, que não conhece bem a capital, é uma felicidade encontrar um cicerone inteligente.”

Espero que vocês tenham gostado. Abraços. Ulisses.

Anônimo disse...

Obrigado pela contribuição Ulisses, belo texto!!!

São de pessoas como você que precisamos aqui no Blog!!!

Grande abraço!!!

Anônimo disse...

Rapaziada,

Memórias da Rua do Ouvidor, Joaquim Manuel de Macedo, capítulo 1.

"Como a atual Rua do Ouvidor, tão soberba e vaidosa que é, teve a sua origem em um desvio, chamando-se primitivamente Desvio do Mar, e começando então (de 1568 a 1572) do ponto em que fazia ângulo com a Rua Direita, neste tempo com uma só linha de casas e à beira do mar. Como em 1590, pouco mais ou menos, o Desvio do Mar recebeu a denominação de Rua de Aleixo Manoel, sendo ignorada a origem dessa denominação; o autor destas Memórias recorre a uns velhos manuscritos que servem em casos de aperto, e acha neles a tradição de Aleixo Manoel, cirurgião de todos e barbeiro só de fidalgos; começa a referi-la, mas suspende-a no momento em que vai entrar em cena a heroína, que é mameluca, jovem e linda, e deixa os leitores a esperar por ele sete dias.

A Rua do Ouvidor, a mais passeada e concorrida, e mais leviana, indiscreta, bisbilhoteira, esbanjadora, fútil, noveleira, poliglota e enciclopédica de todas as ruas da cidade do Rio de Janeiro, fala, ocupa-se de tudo; até hoje, porém, ainda não referiu a quem quer que fosse a sua própria história.

Se tão elegante, vaidosa, tafulona e rica no século atual, por ventura lhe apraz esquecer o passado, para não confessar a humildade de seu berço, pois que é do Ouvidor, cerre bem, os ouvidos; porque tomei a peito escrever-lhe a história, mas com tanta verdade e retidão que se lembrando-lhe seus tempos primitivos ela tiver de amuar-se pelo ressentimento de sua soberba de fidalga nova, há de sorrir depois a algumas saudosas e gratas recordações que avivarei em seu espírito perdidamente absorvido pela garridice e pelo governo da moda.

As Memórias da Rua do Ouvidor têm, em falta de outras, um incontestável, grande e precioso merecimento, pois começa já e imediatamente, sendo os seus hipotéticos leitores poupados aos tormentos do prólogo, proêmio, introdução, ou coisa que o valha, em que, de costume, o autor, abismado em dilúvios de modéstia, abusa da paciência do próximo com a exibição de sua própria pessoa afixada no frontispício do monumento.


*


Salvo o respeito devido à sua atual condição de rica, bela e ufanosa dama, tomo com a minha autoridade de memorista-historiador, e exponho ao público a Rua do Ouvidor em seus coeirinhos de menina recém-nascida e pobre.

A atual rainha da moda, da elegância e do luxo nasceu...

É indeclinável principiar por triste confissão de ignorância: não sei, não pude averiguar a data do nascimento da rua que desde 1780 se chama do Ouvidor, do que a ela disso não resulta prejuízo algum, e pelo contrário ganha muito em sua condição de senhora; porque, isenta de aniversário natalício conhecido, não há quem ao certo lhe possa marcar a idade, questão delicadíssima na vida do belo sexo. Que afortunada predestinação dessa Rua do Ouvidor!

São menos felizes que ela as próprias senhoras nascidas no último dia de fevereiro ano bissexto, as quais têm o condão de aniversário natalício só de quatro em quatro anos...

Mas memorista-historiador que sou, não hesito em atraiçoar o segredo da idade aproximada da Rua do Ouvidor, que tão louçã, namoradeira e galante conta com certeza mais de trezentos janeiros.

Sabem todos que a cidade de S. Sebastião do Rio de Janeiro, fundada por Mem de Sá em 1567, teve o seu assento sobre o monte de S. Januário (depois chamado de Castelo); mas, perdido o receio de ataques inopinados dos Tamoios, começaram, logo, os colonos a descer do monte e a estabelecer-se na planície.

Primeiramente levantaram à beira do mar casas e choupanas com uma só linha, formando o que alguns anos mais tarde recebeu o nome de Rua da Misericórdia; em seguida foram adiantando suas rudes construções pela praia de Nossa Senhora do Ó, que a mudar de denominação se foi chamando Lugar do Ferreiro da Polé, Praça do Carmo, Terreiro do Paço, Largo do Paço, e enfim Praça D. Pedro II.

Da praia de Nossa Senhora do Ó (onde logo depois de 1567 um devoto erguera pequena capela com essa santa invocação) as casas e palhoças continuaram a levantar-se mais ou menos separadas uma das outras e ainda á beira do mar, e também em uma só linha, que muito em breve formaram a primitiva Rua Direita que é desde 1870 Rua Primeiro de Março.

Tudo isso foi obra de 1568 a 1572, e não admira, porque as primeiras casas eram de construção muito ligeira e evidentemente provisória.

Mas em ano que correu entre o de 1568 e o de 1572 alguns colonos abriram à pouca distância do começo da rua que se denominou Direita uma entrada em ângulo reto com ela, e cada qual foi improvisando grosseiro ubi para si e para sua família aos lados dessa aberta feita sobre areias e por entre mesquinha vegetação denunciadora de antigo domínio do mar.

E, curiosa, interessante, notável, notabilíssima idéia ou inspiração daqueles colonos portugueses tão bisonhos e tão sem malícia!... como aquela aberta ainda não era rua, e eles precisavam designá-la por algum nome, chamaram-na Desvio do Mar. Desvio!...

Eis o berço da bonita, vaidosa e pimpona atual Rua do Ouvidor! Fica, pois, historiado que ela nasceu de um desvio, e desvio da Rua Direita, ou do caminho direito, o que, a falar a verdade, não era de bom agouro.

Todavia foi ali aumentando logo o número dos tetos abrigadores; como, porém, se já estivesse prevendo e prelibando seus destinos futuros, o Desvio do Mar ostentou desde os seus primitivos anos suas duas séries de cabanas de aspecto rústico, mas agradável, e perfeitamente alinhadas e paralelas.

O Desvio teve por primeiros moradores gente pobre, no trabalho, porém ativa; peões que exerciam misteres, operários, e um cirurgião que era barbeiro dos nobres.

Mas no ano de 1590 e sem intervenção nem audiência da Câmara Municipal, o Desvio do Mar por acordo geral dos colonos subiu ao grau honorífico de rua urbana com o nome de Aleixo Manoel.

Tal foi a primeira denominação que recebeu, deixando de chamar-se - Desvio - a rua, cujas Memórias escrevo, Aleixo Manoel! nome masculino, feio, ingrato, peão sem raiz de fidalguia, nem carta de nobreza.

Procurei nas crônicas do tempo, e nas obras de Monsenhor Pizarro e de Baltazar da Silva Lisboa algum Aleixo Manoel que tivesse deixado nome na história; mas foi trabalho baldado, não encontrei entre os fidalgos da nascente colônia esse positivo e irrecusável avô da atual Rua do Ouvidor; não há, porém, meio de dissimular o parentesco, porque em livros que escaparam ao incêndio do arquivo da Câmara Municipal da cidade do Rio de Janeiro em 1791 se acha escrita e mencionada a tal denominação de Rua de Aleixo Manoel.

Ah! que nem por isso se arrepie ressentida, e que não maldiga do seu memorista a Exma. Rua do Ouvidor.

Até aqui o pouco que deixo relatado é seriamente tradicional quanto ao Desvio, e em tudo mais positivamente histórico; quero, porém, em honra e glória da Rua do Ouvidor dar a todo transe, em falta de origem aristocrática impossível, origem romanesca a denominação de Aleixo Manoel que ela teve no outro tempo.

Para casos de aperto como este, o memorista, que se reserva direitos confessos de imaginação, deve ter sempre velhos manuscritos ricos de tradições que expliquem o que se ignora.

Não exijo dos meus leitores que tenham por incontestável a tradição que apanhei nos meus velhos manuscritos. Liberdade ampla de aceitá-la ou não.

Aleixo Manoel, colono português, era cirurgião e também barbeiro, mas barbeiro só de fidalgos; morava no monte de S. Januário perto do colégio dos padres jesuítas; como porém poucos doentes tivesse, e ainda menos fidalgos a barbear, lembrou-se um dia de procurar fortuna, explorando a guerra.

Neste ponto a minha tradição se aproveita de uma lúgubre página da história.

Como os índios Tamoios, irreconciliáveis e odientos inimigos dos portugueses, hostilizassem a estes quase constantemente, atacando e destruindo seus estabelecimentos rurais na capitania de S. Vicente, e ainda mais na do Rio de Janeiro, o Governador Antônio Salema, resolvendo exterminar aquela tribo selvagem, fez partir contra ela duas colunas expedicionárias, uma de S. Vicente e outra da cidade de S. Sebastião do Rio de Janeiro, para nesta capitania levarem a ferro e fogo o extermínio a essa tribo funesta e indomável.

Aleixo Manoel alistou-se voluntário na coluna expedicionária fluminense, que foi comandada por Cristóvão de Barros.

A história guarda a lembrança da justificada, mas horrorosa, guerra: o incêndio devorou dezenas de aldeias de índios, e destes mais de dez mil foram mortos, mais de sete mil prisioneiros e reduzidos à escravidão, e os Tamoios que puderam escapar meteram-se pelas florestas, emigrando para muito longe, e para sempre.

Mas o que a história não diz, e a minha tradição informa, é que a tremenda expedição rendeu a Aleixo Manoel dois escravos tamoios, a quem ele generoso e a Custo salvara da medonha hecatombe de uma horda apanhada de surpresa em sua aldeia, nas proximidades de Cabo Frio.

Os dois escravos eram um índio quase sexagenário, e uma índia, sua neta, de três anos de idade; - um homem já a envelhecer, e uma menina a criar; mas para conseguir salvá-los da morte, Aleixo Manoel os tomou à sua conta.

A menina evidentemente não era de raça pura tupi; era uma linda mameluca: a aldeia selvagem estabelecida perto de Cabo Frio ocupado por franceses e as relações amigas e freqüentes destes com os tamoios das vizinhanças, seus aliados, explicavam o cruzamento das duas raças naquela bonita e interessante criança.

De volta á cidade, Aleixo Manoel não quis continuar a residir no monte de S. Januário, e, fazendo construir boa e espaçosa cabana no Desvio do Mar, nela se estabeleceu como cirurgião e ainda barbeiro, mas barbeiro só de fidalgos.

Os dois escravos receberam o batismo: o índio já meio velho chamou-se Tomé, e a menina ainda criança Inês.

Deus abençoa sempre as boas ações e sobre todas as virtudes, a caridade.

Aleixo Manoel colheu em breve proveitoso e merecido prêmio de seu nobre e generoso impulso de amor ao próximo para com os dois infelizes. Tomé, mandado por seu senhor a trazer-lhe do monte do Desterro (depois de Santa Tereza) a famosa e ótima água de Carioca, internava-se na floresta, e nela recolhia ervas, folhas, cortiças e raízes de árvores, cujas virtudes medicinais por experiência, embora rude, conhecia, e as levava ao cirurgião, a quem indicava as moléstias em cujo tratamento elas aproveitavam.

Com esses novos recursos terapêuticos, Aleixo Manoel começou, graças ao pobre escravo, a distinguir-se por admiradas vitórias médicas, ganhou fama; teve clínica extensa e rendosa, reconstruiu sua cabana que se tornou casa muito regular e de bonito aspecto exterior, bem que de um só pavimento, e adicionou-lhe a um lado uma cerca ou gradil de varas, fechando pela frente pequeno jardim e canteiros de legumes, seguindo-se para o fundo o quintal.

E com todo esse luxo o cirurgião não teve ânimo de privar-se da glória de barbear fidalgos.

No entanto, Inês ia crescendo a traquinar pela casa e pelo jardim, e o senhor de dia em dia cada vez se deixava enfeitiçar mais pela escrava.

Mas Aleixo Manoel já era notabilidade, cirurgião famoso, o mais considerado dos moradores do Desvio do Mar, e não havia quem pensasse em dar ao Desvio a denominação de Rua Aleixo Manoel.

Ao correr do ano de 1590 o cirurgião principiou a observar certa mudança de costumes em alguns fidalgos, que em vez de mandá-lo chamar a suas casas, como dantes, vinham barbear-se na dele.

Nos primeiros dias ufanou-se muito daquela alteração de costumes, atribuindo-a à honraria e consideração pessoal que lhe queriam prestar pelo crédito e pela estima que gozava.

Depois notou que os fidalgos que para barbear-se vinham a sua casa eram Gil Eanes, Lopo de Melo e mais quatro ou cinco, todos de nobres famílias mas também todos célebres na cidade por vida licenciosa e pervertida.

Tendo notado isso, desconfiou logo de fregueses tais, pôs-se de observação dissimulada e cuidadosa, e bem depressa certificou-se de que os seus fidalgos, quando chegavam para barbear-se, metiam os olhos pela porta do interior da casa, e que afora essa curiosidade impertinente faziam ronda diária e suspeita pelo Desvio do Mar.

Aleixo Manoel não levou muito tempo a procurar a explicação do fenômeno, mas caiu das nuvens, lembrando-se de Inês.

A mameluca fulgurava então entre os 17 e os 18 anos de idade, e com seus belos olhos negros, sua boca lindíssima, seu rosto encantador e seu corpo de contornos admiráveis maravilhava pela formosura. Era uma arrebatadora morena esperta, faceira, e - sem o pensar, voluptuosa.

Aleixo Manoel caiu das nuvens, porque só então refletiu do que já sabia, só então reconheceu muito séria e gravemente que a menina sua escrava já era mulher.

Ele adorava Inês com enlevos e cultos de amor inocente e santo: até esse dia, porém, da queda do alto das nuvens onde se iludia nos segredos ainda não manifestos da natureza da sua afeição, ou deveras só amava Inês com o ardor e a pureza de pai estremecido.

Os fidalgos libertinos lhe alvoroçavam o ânimo: sabia que seus escândalos e atentados ficavam sempre impunes, quando as vitimas eram gente do povo.

Gil Eanes, Lopo de Melo e os outros que o procuravam para barbear-se que intenções trariam?... Nenhum por certo pensava em casar com uma moça que, além de filha de índia, era escrava; que queriam então fazer dela?...

Nessa aflitiva e revoltante conjuntura, Aleixo Manoel apenas escapou de ter sido o primeiro republicano da Rua do Ouvidor, e aí o mais antigo patriarca das idéias do meu bom amigo o Sr. Otaviano Hudson.

Mas que havia de fazer Aleixo Manoel?... era impossível, ou seria loucura meter-se em briga com fidalgos.

Fidalgos! a classe humana super-humanizada, privilegiada e purificada, a classe do seu culto e da sua paixão!... quem diria que o seu maior tormento lhe viria de fidalgos?

Aleixo Manoel velou uma noite inteira a meditar, e a imaginar; mas na manhã seguinte achou-se senão tranqüilo, ao menos, porém, esperançoso do bom resultado do plano que forjara.

Nesse plano a primeira e essencial condição era em casa a defesa e a segurança de Inês, quando ele estivesse ausente.

O cirurgião não procurou auxílio fora da família: tinha sob seu teto cão fiel, velho, mas robusto e forte; um índio, o avô de Inês.

Pôs de sobreaviso, mas em segredo absolutamente recomendando o já octogenário Tomé, que se endireitou garboso, como o jacatirão, e murmurou surda e ameaçadoramente:

- Deixa eles!

Além das instruções que deu ao velho índio, o que mais fez Aleixo Manoel, ele lá o soube e nós provavelmente o iremos sabendo; continuou, porém, respeitoso e humilde a receber em casa os tais fidalgos, e a barbeá-los, como dantes, salva a idéia sinistra e repulsada, que às vezes lhe vinha, de experimentar o corte da navalha nas gargantas dos privilegiados sedutores de donzelas pobres.

Entretanto, o cirurgião muitas vezes ficava cismando, e a lembrar-se e relembrar-se de que não era nem pai, nem tio, nem irmão, nem primo de Inês, e que por conseqüência não havia impedimentos...

É verdade que ele tinha cinqüenta anos e a menina dezessete; mas por isso mesmo! velho que se apaixona por menina perde logo com o coração a medida do tempo, principalmente futuro, para ela a florescer, e para ele a murchar.

Inês estava percebendo mil coisas, mas era uma inocentinha que não via coisa alguma; divertia-se muito assim; mimo e princesa de casa, a linda escrava era, desde pequenina, a senhora de seu senhor.

Uma tarde Inês...

Evidentemente é este o momento em que a linda mameluca entra, manifesta-se em cena, e pois que a minha tradição da Rua de Aleixo Manoel não pôde caber toda neste folhetim, eu seria o mais inexperiente e insensato dos folhetinistas, se não interrompesse a narração, deixando os meus leitores curiosos de contemplar a bela e voluptuosa Inês em sua primeira hora de travessa, viva e um pouco maliciosa revelação.

Esperar é o tormento do desejo, mas vale a pena esperar sete dias pela contemplação de uma jovem formosa."

Saravá!

Anônimo disse...

Caros participantes de tão ilustre blog, ao acompanhar os comentários a respeito do texto do Simas me identifiquei com algumas passagens colocadas. Apesar de gostar do samba sábado foi a primeira vez que fui à roda da rua do ouvidor.Aos que disseram que há "desagregação" pelo fato de o repertório "resgatar sambas obscuros" só tenho uma coisa a dizer: sinto muito. Apesar de não conhecer nenhuma música que foi tocada na roda, viajei plenamente nas letras muito bem cantadas pelo gabriel e companhia e deixei aquela roda com um desejo enorme de conhecer mais... ouvi sambas de paulo da portela e mano decio da viola os quais julgo um crime que a maioria da população nunca vá ouvir e apreciar... quanto a zeca pagodinho, arlindo cruz e cia quem quiser ouvir não precisa ir na roda... é so ligar na fm "o dia".
um abraço aos garotos da ouvidor.

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